terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Mar


Eu sou o mar!
E afundo todos os navios que caem em meus braços, em minhas ondas. Só há espuma em minha cabeça, que são sereias mortas pelo desespero, ou bolhas vazias. Sou desespero e também sou dor...
Arrasto tudo para dentro e afogo em minhas águas frias.
Os que sobrevivem já estão longe de suas casas. Estão longe de seus lares. E não há lar algum para mim. Bato a porta de todos, ninguém a abre, mas vejo as luzes brilhantes pelas janelas embaçadas, grito e respingo nos vidros, fecham-me as cortinas brancas que o sol já amarelou. Mas sei que lá dentro há comida quente, abraços quentes e sorrisos quentes. E choro.
Meus pés estão sempre frios. Minhas mãos parecem mortas...
Mas sou apenas um mar bravio.
E se eu não passo, então quem pode? Emboto-me, e deito sobre minhas ondas, encolho os pés para tentar torná-los quentes, juntos as mãos, como em prece.
Adormeço.
Mas arrasto o mundo para dentro do meu sono.
Há muitas crianças brincando na areia, muitos casais andam pela praia, os guarda sois despontam como lancetas, impondo-se entre meu cobertor de areia e o céu. Há muitos risos que ecoam pelo ar, chegam a mim como sinos e mensageiros do vento, isso as vezes me acalenta, e canto dentro das conchas para que os desocupados e apaixonados que se debruçam sobre essas possam me ouvir.
Mas as vezes isso me enfurece. Porque o mundo viveu enquanto dormi. E em meu choro ninguém me consolou... Como se pode consolar tantas sereias mortas? Tantas águas revoltas? Tantas lágrimas que salgaram os rostos dos que vieram?...
Não podem. Eu sei...
Mas não consigo. Quero esses abraços quentes. E na ressaca, puxo lentamente todo esse mundo, por quem tenho amor.

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