domingo, 2 de agosto de 2015

Inferno

            Hoje eu vi o inferno.
            Ele é mais amplo do que imagina-se, ele se estende do teu peito até uma infinidade, mais longe que teus olhos alcançam, mais longe que tua mente imagina. Ele é imenso! E ainda assim quando respira parece caber todo no teu coração... Mas como um grande e extenso não ser, que sequer vazio é, que nem ausência é, que é um verdadeiro nada.
            Não há diabo, nem há demônios. As labaredas vermelhas são puramente invenções. Ele pode ter qualquer formato, porque cabe em qualquer lugar que você esteja. Á mim ele tem o tamanho de uma sala de um apartamento, com apenas um quarto, as três horas da manhã. Isso na pequena visão, se olhar pela sacada, ele cobre a cidade toda... A rua mal iluminada, a praça, o estranho prédio que tem um buraco circular no topo... Tudo e todos parecem longe e distante, como se a milhas de ti. Ainda assim parece que tudo encosta em sua pele, a sensação é fria e árida e eterna.
            Não há castigos no inferno. Ao menos não desses de chicote e palmatória. Mas é um castigo o viver nele... Porque você vive nele, mas nunca presente. Porque você caminha por ele como se fosse invisível porque, para o mundo, você é... E assim você se sente. Há uma enorme espera de desaparecer, de tuas mãos ficarem lentamente transparentes, de tu esfarelar as poucos pelas calçadas, de tão lentamente você simplesmente sumir.
            Mas nada...
            Tua continuidade é tão constante que é assombrosa.
            Mas há sempre o constante esperar de um fim. Eventualmente isso deve acabar, só que jamais ocorre. E sua espera por esse final se prolonga, numa ânsia constante... Há sempre o medo da eternidade, já que o inferno é eterno e imenso e preenche todo o espaço sem preenche-lo.        
            No entanto, você está longe de ser vazio. Teu coração e mente estão cheios de coisas! Só que erradas... Como se forradas de papel jornal, clipes, restos de lápis apontados... Dentro de ti não há nenhum sustento, e tu anda mesmo por mágica. Tu vive por mágica... Uma tão forte as vezes que você se pergunta constantemente porque ela existe...
Ao teu redor tua solidão é tão imensa que você sente como um manto. Ele jamais te aquece o corpo, nem os ossos, mas te cobre para ser ainda menor, e te pesa os ombros para tê-los baixos e tristes, te faz andar lento... Mas ser lento de nada importa no inferno onde o tempo é eterno. O sol se move pelos céus no inferno, também aparecem as luas e as estrelas, mas elas correm num tempo diferente do que você vive, como se distintamente separados por dois mundos. Um deles não tem lugar para ti, e vive feliz sem tua presença. O outro, tua existência é imprescindível, já que só você habita nele... E ele é uma enorme espera...
            Não há barulhos no inferno... Ele é imensamente silencioso... As vezes só um relógio de ponteiros do outro quarto... E só.
            Mas todos nele se ocupam de preenchê-los de som. Repetem mantras que jamais acabam, silabas e palavras que nunca se vão... Elas se repetem em suas mentes num desespero constante, como a única saída que tem e que jamais vão alcançar. São consolos e são tristezas, são as vezes não mais que um nome...

            E eu repito “Eu vou...”