Hoje
eu vi o inferno.
Ele
é mais amplo do que imagina-se, ele se estende do teu peito até uma infinidade,
mais longe que teus olhos alcançam, mais longe que tua mente imagina. Ele é
imenso! E ainda assim quando respira parece caber todo no teu coração... Mas
como um grande e extenso não ser, que sequer vazio é, que nem ausência é, que é
um verdadeiro nada.
Não
há diabo, nem há demônios. As labaredas vermelhas são puramente invenções. Ele
pode ter qualquer formato, porque cabe em qualquer lugar que você esteja. Á mim
ele tem o tamanho de uma sala de um apartamento, com apenas um quarto, as três
horas da manhã. Isso na pequena visão, se olhar pela sacada, ele cobre a cidade
toda... A rua mal iluminada, a praça, o estranho prédio que tem um buraco
circular no topo... Tudo e todos parecem longe e distante, como se a milhas de
ti. Ainda assim parece que tudo encosta em sua pele, a sensação é fria e árida
e eterna.
Não
há castigos no inferno. Ao menos não desses de chicote e palmatória. Mas é um
castigo o viver nele... Porque você vive nele, mas nunca presente. Porque você
caminha por ele como se fosse invisível porque, para o mundo, você é... E assim
você se sente. Há uma enorme espera de desaparecer, de tuas mãos ficarem lentamente
transparentes, de tu esfarelar as poucos pelas calçadas, de tão lentamente você
simplesmente sumir.
Mas
nada...
Tua
continuidade é tão constante que é assombrosa.
Mas
há sempre o constante esperar de um fim. Eventualmente isso deve acabar, só que
jamais ocorre. E sua espera por esse final se prolonga, numa ânsia constante...
Há sempre o medo da eternidade, já que o inferno é eterno e imenso e preenche
todo o espaço sem preenche-lo.
No
entanto, você está longe de ser vazio. Teu coração e mente estão cheios de
coisas! Só que erradas... Como se forradas de papel jornal, clipes, restos de
lápis apontados... Dentro de ti não há nenhum sustento, e tu anda mesmo por
mágica. Tu vive por mágica... Uma tão forte as vezes que você se pergunta
constantemente porque ela existe...
Ao teu redor tua
solidão é tão imensa que você sente como um manto. Ele jamais te aquece o
corpo, nem os ossos, mas te cobre para ser ainda menor, e te pesa os ombros
para tê-los baixos e tristes, te faz andar lento... Mas ser lento de nada
importa no inferno onde o tempo é eterno. O sol se move pelos céus no inferno,
também aparecem as luas e as estrelas, mas elas correm num tempo diferente do
que você vive, como se distintamente separados por dois mundos. Um deles não
tem lugar para ti, e vive feliz sem tua presença. O outro, tua existência é imprescindível,
já que só você habita nele... E ele é uma enorme espera...
Não
há barulhos no inferno... Ele é imensamente silencioso... As vezes só um
relógio de ponteiros do outro quarto... E só.
Mas
todos nele se ocupam de preenchê-los de som. Repetem mantras que jamais acabam,
silabas e palavras que nunca se vão... Elas se repetem em suas mentes num
desespero constante, como a única saída que tem e que jamais vão alcançar. São
consolos e são tristezas, são as vezes não mais que um nome...
E
eu repito “Eu vou...”