sábado, 8 de dezembro de 2012

A máquina


            E ela virou a maquina.
            Dela já não saiam palavras, e o único som era o de engrenagens rápidas junto de um leve respirar, o retumbar precário de seu coração.
            Já não exprimia palavras, nem havia mais expressões a lhe correr o rosto. Apenas fazia o rosto dos outros se modificar... E não eram poucas as lágrimas que lhe derramaram sobre o leito, nem poucas as suplicas para que fossem perdoados sobre tantos eventos que nem mesmo consigo lembrar, não havia sorrisos que não fossem aqueles de compadecidos, uma felicidade depressiva, uma tentativa de fazer toda a situação melhorar.
            Mas como?
            O carro havia sido destruído na batida, ela foi arremessada para frente, o cinto lhe segurou as costelas, quebrando-lhe algumas, que vieram a ser remendadas posteriormente, e a cabeça foi jogada com força demais para trás. Os vidros explodiram em cacos, que na confusão se misturaram as estrelas do céu, nos milésimos de segundos que ela conseguiu olhar. A frente do carro entortou, o ferro entortou-se sobre ela, e seus ossos se retorceram junto ao ferro, prensando e cortando a carne...
Tornou-se máquina
            O coração já não batia por conta, nem conseguia respirar. Já não se sabia se era viva, nem se existia essa possibilidade de retorno...
            E então quando a morte cerebral foi confirmada.
            E o marido chorou sobre a máquina...
            Eu só pensei que ali desligava esses sentimentos que ainda estavam dentro do coração dela, em uma sufocada batida vazia... 

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