sábado, 12 de janeiro de 2013

Criança


O homem é grande. Levanta-se acima das nuvens e toca o céu. As lâmpadas. Alto como edifícios e adultos. Largo como construções e adultos. Enorme!
Seus olhos estão sempre muito acima dos meus, e vejo apenas suas pernas percorrendo, passos grandes de gigantes (desconhecidos nos dias de hoje, ou apenas esquecidos). Vejo seus sapatos sempre amarrados, com complicados laços. As calças sempre percorrem toda a perna, e terminam escondendo os tornozelos cheios de pelos rebeldes que se enroscam e se confundem uns com os outros.
Seus movimentos são sempre muito mais rápidos que os meus. E eu corro sobre minhas pequenas pernas, tão pouco estáveis, tão pouco confiáveis, para tentar acompanhar. Jamais acompanho. Ele está sempre á frente. Ou um passo disso. Seus passos são léguas, do tamanho de barcos ou adultos.
E sempre que fujo, uma tentativa de chamar a atenção, uma necessidade de ir a encontro de algo, ou um desejo de correr, não importa, suas mãos, que são do tamanho de aviões ou adultos, agarram-me e levantam-me. Com toda a delicadeza dos deuses e dos mortais. E voou, delicadamente, no espaço, muito acima de tudo, muito acima de todos, sob o comando daqueles braços que são grandes como estradas e adultos.
Pouso sempre em seu peito largo, como um continente ou adulto. E enquanto o homem arruma delicadamente meus cabeços, finos, ralos, lisos e inocentes, miro-lhe o rosto com cuidado, vejo-o grande e enorme, mas seus olhos, mais grandes e mais enormes do que todo o resto, como astros ou adulto, estão sempre em mim, e lá dentro, estou eu, pequeno e diminuto ser, acolhido dentro das orbitas brilhantes, como semente, que sou.

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