terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Eterno

Jamais desejaria a eternidade
Que sufoco deve ser
acordar para sempre assim sozinho...
que tristeza não ter mais pais, amigos, primos, tios
nem mesmo o gato de estimação...
Como deve ser infinitamente triste saber
que sua saudade é infinda
que sua dor é infinda
que sua melancolia infinda se espalha lentamente
pelos dias como uma angustia eterna

De que adianta viver para sempre
se não há mais forças para ver o mundo
nem há mais gosto para ver o mundo
Se até suas pequenas lembranças se perderam
Se a árvore do primeiro beijo foi derrubada
Se sobre o parquinho que correu um estacionamento surgiu
Se suas raízes apodreceram
e até a cidade natal agora te rejeita
Tudo o que sabe e sente é que está só!...

Pela primeira vez entende a palavra ‘completamente’

Também não desejo a morte a ninguém
Eu apenas a reconheço como uma necessidade
talvez, se muito, amiga
que se enrosca em meus cabelos e dorme
aconchegantemente nos meus pensamentos
como um pequeno gato perdido
Sua presença é a sólida revelação do tempo
que não volta...

Se eu pudesse mesmo desejar algo
queria o mundo todo imortal,
menos eu
Queria que todos vivessem a eternidade
menos eu
Para que pudesse viver sem suas mortes
e ainda assim pudesse partir
É de todas as coisas o meu maior egoísmo
não ter esse respeito por vê-los morrer
não ter forças para suas ausências...
Mas eu faria o favor de não atormentá-los com minha efemeridade
eu passaria transparente por suas vidas
num passo leve de ladrão e bailarina
eu passaria como se espera e deve uma brisa fria da manhã,
passaria como as vezes passo, num passo lento
de uns meses perdidos, conversas perdidas, abraços perdidos...
assim, tão distante...
Se isso pudesse ser real...
eu teria só o peso de um papel
ou de um poema esquecido

Nenhum comentário:

Postar um comentário